Dos morangos pintados de azul, pelos quais levei bronca da professora, ao famoso desenho do Coelho da Páscoa que me levou em turnê por todas as salas do colégio, repetindo o desenho em cada uma das lousas em 1975, acho que durante a infância e adolescência eu só fazia desenhar. Ilustrei todas as edições do jornal da escola e cuidei da “comunicação visual” do setor da empresa onde meu pai trabalhava – atividade que voltei a desempenhar durante o Serviço Militar.
Eu tentei fugir, não queria me alistar. Quero lutar, mas não com essa farda.
Durante essa época, também participei de algumas edições do Salão de Humor de Piracicaba, criei capas de discos para bandas de amigos, logotipos para empresas locais e estampas para camisetas. Mais tarde, entre 1986 e 1988, fui chargista do Jornal O Trabalhador (Salto) e da Revista Boa Vida (Itu). Em 1990 assumi as ilustrações do Cidade Jornal (Salto, Itu e Indaiatuba), com o qual já colaborava, até o fim de suas atividades em 1991. Depois disso, acabei virando dono de escola de idiomas e só desenhei para o meu filho… rsrs… Aqui, neste portfólio em constante construção, vou revivendo lembranças enquanto abro meu velhos baús.
Uma página aleatória do jornal da escola, que acabou sendo onde conheci um ex-aluno que me levaria com ele para ilustrar profissionalmente tempos depois.
Um breve estudo para criação de caricaturas de políticos saltenses para o jornal O Trabalhador na primeira metade da década de 1980. Infelizmente já não me lembro mais dos nomes de todos representados nesse desenho.
Os corujas eram os mecânicos de manutenção do turno da noite na unidade de Salto da Eucatex, supervisionados pelo meu pai e grande incentivador artístico durante as décadas de 1980 e 1990. Todo final de ano ele me pedia para desenhar um cartão de boas festas.
Também criei muitos logotipos nessa época, para comércios e escolas locais. Assim como ilustrações para camisetas de formatura.
Em 1986 e 1988 os acontecimentos me inspiraram a enviar trabalhos para o Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Primeiro, foi o surgimento do RPM, desbancando o sucesso dos Menudos junto ao público feminino. Depois, a idéia maluca do prefeito de São Paulo, Jânio Quadros, sobre a concessão de serviço de estacionamento de veículos em garagens subterrâneas a serem implantadas em áreas públicas municipais.
Ainda guardo os cartazes das edições que participei.
Eu vi Paulo Ricardo reprimindo os Menudos com seu olhar 43 e o Rock ocupando os veículos de mídia mainstream nos anos 80.
As camisetas de carnaval com ilustrações personalizadas para grupos de amigos eram uma constante por aqui durante a minha adolescência. Criei e estampei várias delas – frente e verso – durante alguns anos.
As participações em zines alternativos, cartazes de eventos e ilustrações para capas de fitas-demo e CDs de bandas de amigos eram divertidas de fazer e levavam meu trabalho para lugares onde eu nem imaginava estar.
Possível estudo para criação de personagens ou tiras para fanzine.
Parte de um paste-up para diagramação do zine alternativo Mary Jane.
Fimose: aquarela sobre canson.
Ameba Suicida: Rock’n”Roll Ddelo Tercero Mundo. Fita-demo de 1991.
Rock’n”Roll Ddelo Tercero Mundo Volume I: Bandas diversas em 1993.
Mary Jane’s Hot Dog: We Got The… Fita-demo de 1992.
Rock’n”Roll Ddelo Tercero Mundo Volume III: Bandas diversas em 1995.
O jornal Cidade Jornal operou em Salto de 1989 a 1991. Fundado e dirigido pelo jornalista Valderez Antônio Bergamo Silva, era um semanário de oposição à gestão municipal em vigor, com editorias picantes e muita provocação inteligente, do qual tive o privilégio de ser o ilustrador titular durante os três anos de sua existência. Conheci o Valderez quando trabalhamos juntos no jornal da escola e sou eternamente grato pela oportunidade e experiência. Ele foi um notório contribuidor da a cultura e política local e, hoje, a Biblioteca Municipal de Salto foi renomeada para Biblioteca Professor Valderez Antônio Bergamo Silva em sua homenagem.
O Cidade Jornal era um jornal que vinha com toda a força.
Editorial sobre o poder da comunicação.
Ilustração de editorial sobre liberdade de imprensa.
As expectativas não eram as melhores para a virada do século.
Aguada de nanquim sobre canson feita especialmente para a capa do caderno de cultura no dia da morte de Raul Seixas.
Houve tempos em que o lixo e o esgoto eram motivo de terror na cidade.
Antes dos jornais coloridos, o que nãe era branco saia em preto.
Dá até saudade das linhas guia azuis do paste-up para offset.
Quem eram os paçlhaços e quem eram os monstros?
Tinha gente engravatada queimando o filme do futebol local.
Parece que o prefeito precisou de uma força para ter mais peso diante dos vereadores.
O famoso orelhão gigante da Praça da Matriz, para matéria especial sobre a cidade de Itu, onde tudo é grande.
Ilustrações feitas para matéria sobre a morte de Luiz Gonzaga e editorial sobre o excesso de nudez na televisão.
Quando o jornal passou a ser regional, nem todos os olhares foram iguais.
As marcas e anotações no verso das ilustrações eram cruciais na preparação delas para uma diagramação correta.
Uma passagem rápida como freelancer pelo jornal concorrente depois do fechamento do Cidade Jornal.
Pontilhismo em nanquim com bico de pena sobre canson. Trabalho inacabado devido ao fim de um relacionamento com a modelo… rsrs
Guache sobre canson representando Santa Rita, comissionado pelo padre da paróquia local. Mais um dos trabalhos abandonados sem terminar.
Depois do Cidade Jornal, parecia que meu artista interior já não estava mais dando conta de pagar as despesas do mês. Então, a brincadeira de infância de desenhar, que durante alguns anos foi profissão, devagarzinho voltou a ser só a brincadeira de desenhar e acabei seguindo outros rumos. Mas não sinta pena! A arte nunca saiu de mim. Apenas me disfarcei de empresário por algum tempo, pra juntar energia e poder ser um coroa rebelde, fazendo a arte que eu quiser, na hora que eu bem entender, sem me preocupar em colocar meu talento a serviço de pagar os boletos. Hoje, já não sou mais dono de escola. Sou músico, cineasta, artista plástico, radialista e um produtor cultural realizado. O meninão do C.V. deve estar orgulhoso de mim… rsrs…